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A proposta da rede Ergonomia do 

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EcoInnovate Sustain

Kaplan, M. (1995). The culture of work: Cultural ergonomics. Ergonomics 38(3):606–615.

Garcia-Acosta, G.; Pinnila, M.H.S.; Laharrondo, P.A.R.; Morales, K.L. (2014) Ergoecology: fundamentals of a new multidisciplinary field. Theoretical Issues in Ergonomics Science 15(2): 111-133

Ergonomia e Sustentabilidade

A plataforma pretende divulgar a ergonomia na sua essência macro, prezando pelos princípios sistêmicos, participativos, multi e interdisciplinares, e ser um fórum para debater sobre os meios de aplicação da macroergonomia como contribuição para uma sociedade sustentável. Notar que o conceito de sustentabilidade que está sendo adotado é o de Sachs (1991) que considera no mínimo cinco dimensões da sustentabilidade: social, cultural, espacial, ecológica e econômica.

A ergonomia vem contribuindo para a dimensão social da sustentabilidade e, na sua perspectiva macro,  também para as questões nas interfaces cultural (ergonomia cultural), espacial  e ecológica (ergoecologia), que têm impacto positivo na dimensão  econômica, e todas são base para um presente e futuro sustentáveis. Principalmente no Brasil, com tanto diversidade cultural, espacial e ecológica (o que é positivo) mas tanta desigualdade socioeconômica (o que é negativo), a ergonomia, sob a perspectiva macro/cultural/espacial/ecológica/econômica, é um caminho que pode e deve ser trilhado para a construção de um país melhor.  Este tipo de ergonomia é o foco desta rede que se comunica diretamente com a rede Sustentabilidade, inclusive porque ergonomia pode contribuir diretamente para os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável do Milenio, diretamente para os ODS 03 - Saúde e bem-estar, ODS 08- Trabalho decente e crescimento econômico e ODS 11 - Cidades e comunidades sustentáveis.

A ergonomia é fundamental para o mundo do trabalho atual tendo em vista a grande disparidade das condições de trabalho existentes, e a International Labour Organization (ILO) e a International Ergonomics Association (IEA) enfatizam o quão importante é enfrentar estas situações de modo a alcançar sistemas de trabalho sustentáveis. Leia o depoimento de Kathleen Mosier (Emeritus Professor of Psychology, San Francisco State University e atual presidente da IEA) e Juan Carlos Hiba (Asociación de Ergonomia Argentina National e University of Rosario, Argentina) e assista o video com a mensagem de Kathleen Mosier sobre o futuro do trabalho.

Recentemente, a IEA e ILO (International Labour Organization) elaboraram o documento "Principles and Guidelines for Human Factors/Ergonomics (HF/E) Design and Management of Work Systems,” para servir como base técnica para a ILO preparar normas para postos de trabalho e boas práticas de ergonomia. O interessante é que ele aponta a importância do envolvimento e comprometimento governamental, empresarial, de trabalhadores, sindicatos, nos projetos de ergonomia. O documento pode ser acessado em https://iea.cc/iea-ilo-draft-guidelines-available/, a versão em inglês em https://secureservercdn.net/166.62.110.213/m4v.211.myftpupload.com/wp-content/uploads/2014/10/Principles-and-Guidelines_May2020-1.pdf, e a versão em espanhol em https://secureservercdn.net/166.62.110.213/m4v.211.myftpupload.com/wp-content/uploads/2020/05/Principios-y-Directrices-de-EFH-para-el-Diseno-y-Gestion-de-Sistemas-de-Trabajo-v1.pdf

Em 20 de Agosto de 2020, a ABEPRO (Associação Brasileira de Engenharia de Produção) promoveu uma live sobre ergonomia com os professores Sergio Jose Barbosa Elias (UFC), Mario Cesar Rodrigues Vidal (UFRJ), Paulo Antonio Barros Oliveira (UFRGS e presidente da ABERGO) e Lia Buarque de Macedo Guimarães (CNPq/UFRGS). O video pode ser acessado no link  https://www.facebook.com/abeprooficial/videos/852595511938467/?__so__=permalink&__rv__=related_videos

A pergunta da rede Ergonomia do 

EcoInnovate Sustain

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O foco da rede Ergonomia do

EcoInnovate Sustain

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Mudança de pensamento

Como podemos promover o desenvolvimento sustentável em diversas regiões brasileiras, otimizando  o sistema produtivo por meio do trabalho decente (com saúde, segurança, dignidade, prazer, estabilidade e produtividade), utilizando recursos humanos e materiais locais, reduzindo desemprego, gerando trabalho e renda e conservando o território, a cultura local e o meio natural?

Identificar e contribuir para iniciativas e projetos ergonômicos e discutir seus impactos na sustentabilidade dos sistemas produtivos. São foco de atenção, os estudos que visam a otimização das empresas (macroergonomia), ações voltadas às comunidades onde as empresas estão inseridas (ergonomia comunitária e ergonomia cultural), às populações menos favorecidas e às pessoas com deficiência enfim, estudos/ações voltados para a inclusão social e vida comunitária, extrapolando os portões das empresas, e ações voltadas à preservação do meio ambiente (ergoecologia).

A plataforma pretende viabilizar mudanças no pensamento micro-orientado (que vem sendo a tônica de muitas intervenções ergonômicas) para uma visão macro, mais sistêmica, reconhecendo a inclusão do meio natural, ecológico, neste sistema. Mas qual a diferença entre micro e macro ergonomia?

Na realidade, não deveria haver uma distinção entre micro e macroergonomia pois, na sua definição, o caráter da ergonomia é macro, sistêmico. Pela definição internacionalmente mais aceita

 “Ergonomia (ou fatores humanos) é uma disciplina científica relacionada ao entendimento das interações entre os seres humanos e outros elementos ou sistemas, e à aplicação de teorias, princípios, dados e métodos a projetos a fim de otimizar o bem estar humano e o desempenho global do sistema(Associação Internacional de Ergonomia –  IEA, 2020 e Associação Brasileira de Ergonomia – ABERGO, 2020).

A disciplina da ergonomia “está orientada para uma abordagem sistêmica de todos os aspectos da atividade humana e, para tanto, é preciso que os profissionais que atuam na área de ergonomia tenham uma abordagem holística de todo o campo de ação da disciplina(ABERGO, 2020), tanto em seus aspectos físicos, cognitivos, sociotécnicos, organizacionais, ambientais, e outros fatores relevantes, e também as complexas interações entre seres humanos, outros seres humanos, o ambiente, ferramentas, produtos, equipamentos e tecnologia (IEA, 2020).

A IEA e a ABERGO  dividiam a ergonomia em três domínios de especialização: o físico, o cognitivo e o organizacional. A Ergonomia Física estuda características de anatomia, fisiologia, antropometria e biomecânica ligadas às questões físicas humanas (IEA, 2000; ABERGO 2020) e também questões físicas ambientais como temperatura, ruído, ventilação. A Ergonomia Cognitiva tem foco nos processos mentais do trabalho (percepção, memória, processamento de informação, interação humano-computador, comunicação) e a Ergonomia Organizacional considera os fatores de estruturas organizacionais, políticas e de processos (IEA, 2000; ABERGO, 2020).

Recentemente, em março de 2020, a IEA (2020) excluiu da definição de ergonomia os domínios de especialização, e inseriu duas “perspectivas”: microergonomia, design de procedimentos, contexto, equipamentos e ferramentas para trabalho; e macroergonomia, organização do trabalho, tipos de trabalho, tecnologia utilizada, funções do trabalho, comunicação e feedback (IEA,2020).

Da microergonomia à macroergonomia

Foram Hal W. Hendrick e Brian M. Kleiner quem, nos anos 1990, utilizaram o termo macroergonomia para distinguir entre a perspectiva sistêmica da ergonomia e a ergonomia do individuo, focada ou no posto de trabalho, ou no ambiente físico ou na interação humano-computador, que ocorreram em função das demandas em diferentes momentos da história e, em consequência, marcaram diferentes fases da ergonomia.  Hendrick (1990, 1991, 1993) diferencia as quatro fases de evolução da ergonomia de acordo com a tecnologia enfocada. As três primeiras fases focam em diferentes questões, sob uma perspectiva micro orientada. 

1a fase, ergonomia tradicional ou de hardware

Desenvolvida durante e a partir da 2a Guerra Mundial

No inicio, a ergonomia focou as características (capacidades, limites) físicas e perceptuais do ser humano, e na aplicação dos dados no design de controles, displays e arranjos de interesse militar. Quando transposta para a arena civil, foi e ainda é aplicada em postos de trabalho.

É a tecnologia de interface humano-máquina (hardware) para adequar o trabalho físico ao ser humano, no nível individual, ou microergonômico.

2a fase, ergonomia do meio ambiente

Desenvolvida a partir da década de 1970

3a  fase, ergonomia cognitiva ou ergonomia de software

Desenvolvida a partir da década de 1980

Trata das questões ambientais (ruído, vibrações, temperatura, iluminação, aerodispersóides) que interferem no trabalho.

É a tecnologia de interface humano-ambiente para adequar o meio de trabalho físico ao ser humano, no nível individual, ou microergonômico.

Com o advento da informática, o foco é o estudo do processamento de informação e sua aplicação em sistemas informatizados.

É a tecnologia de interface humano-máquina (software) para adequar o trabalho cognitivo ao ser humano, no nível individual, ou microergonômico.

Hendrick, H.W. e Kleiner, B.M. (2001) Macroergonomics: an introduction to work system design. Santa Monica: Human Factors and Ergonomics Society

 

Hendrick, H.W. e Kleiner, B.M. (2002) Macroergonomics : Theory, Methods and Applications. Mahwah : Lawrence Erlbaum Associates

4a  fase, macroergonomia 

Desenvolvida a partir da década de 1990

Hendrick e Kleiner (2001, 2002) defendem que ergonomia não se restringe a questões individuais (como o posto, o ambiente físico e questões cognitivas do trabalho) e impulsionaram a macroergonomia, que foca o sistema formado pelos seres humanos, o ambiente, as máquinas (hardware e software), o processo de trabalho, a organização e o ambiente externo (questões organizacionais, culturais, políticas) que impactam no desempenho do trabalhador e da empresa.

É a tecnologia de interface humano-organização-ambiente-máquina (hardware e software) cujo objetivo central é otimizar o funcionamento dos sistemas de trabalho, tendo em conta a interface do desenho organizacional com a tecnologia, o ambiente e as pessoas.

Bases da  macroergonomia

Sistema sociotécnico 

Trist, E.L. e Bamforth, K. W. (1951)  Some social and psychological consequences of the longwall method of coal-getting. Human Relations, 4 (1): 3-38

As bases da macroergonomia se apoiam no conceito de sistemas sociotécnicos (Trist e Bamforth, 1951) que considera que o subsistema social (pessoas, grupos, seus sentimentos, comportamentos, capacidades, cultura) e o subsistema técnico (máquinas, equipamentos, materiais) devem ser considerados de forma integrada para que qualquer sistema, como um todo, funcione de forma equilibrada, sem perda de produtividade.  Notar que um sistema sociotécnico pode ser um único indivíduo usando uma ferramenta manual ou um sistema complexo, como uma organização multinacional.

 

Na macroergonomia, Hendrick e Kleiner (2001, 2002) consideram que o  sistema de trabalho (foco da macroergonomia) consiste em dois ou mais indivíduos interagindo com alguma forma de 1) projeto de trabalho (tarefas, conhecimento e habilidades); 2) máquinas e ferramentas (hardware e/ou software); 3) ambiente interno (fatores físico-ambientais e psicossociais); 4) ambiente externo (política, cultura, questões econômicas, a sociedade, que geram incertezas e inseguranças no ambiente interno (da empresa)); 5)  projeto organizacional (estrutura organizacional e processos do sistema de trabalho). Estes componentes, ou subsistemas, em interação constituem o sistema sociotécnico (Hendrick e Kleiner, 2001, 2002).

Ergonomia participativa 

Brown, O. Jr. (2002) Macroergonomic Methods : Participation. In: Hendrick, H.W. e Kleiner, B.M. (2002) Macroergonomics : Theory, Methods and Applications. Mahwah : Lawrence Erlbaum Associates

Hendrick, H.W.  (1996) Good ergonomics is good economics. Human Factors and Ergonomics Society, Santa Monica

Boa ergonomia é boa economia

Enquanto perspectiva, a macroergonomia inclui participação, flexibilidade, otimização conjunta, design participativo, harmonização do sistema, e melhoria contínua do processo. A ergonomia participativa é um dos métodos mais importantes para o desenvolvimento da macroergonomia pois é uma forma de envolvimento dos empregados na análise e projetos ergonômicos (Brown, 2002), 

 

O objetivo da macroergonomia é a otimização do projeto do sistema de trabalho a partir das características de seu sistema sociotécnico, chegando até o projeto de trabalho individual, das interfaces humano-máquina, humano-ambiente e humano-software.  Quando se atinge o objetivo de um sistema de trabalho harmonizado, o resultado são melhorias significativas na performance organizacional (produtividade, eficiência,  confiabilidade, qualidade etc.) (Hendrick e Kleiner, 2001, 2002), o que é crucial para a dimensão econômica, e melhorias na dimensão social (segurança, saúde, conforto, bem estar, qualidade de vida no trabalho) da sustentabilidade.

Dois videos sobre macroergonomia, disponíveis na internet, podem ajudar a melhor entendê-la. Um do prof. Adam Piper, PhD, South Dakota School of Mines and Technology, e um de Michele Robertson, PhD, CPE, do Liberty Mutual Research Institute for Safety.

Em geral, a visão de ergonomia adotada nas empresas ainda é mico orientada, ou seja, foca no individual ou em um subsistema (por exemplo, máquinas, ferramentas, posto de trabalho, projeto de trabalho, ambiente físico) sem considerar os impactos nos outros subsistemas. Para os defensores da macroergonomia (e.g. Hendrick e Kleiner, 2001, 2002), é perfeitamente possível realizar um ótimo trabalho de ergonomia projetando um componente ou subsistema, mas não conseguir ganhos de eficiência pelo fato de não ter sido dada atenção ao projeto do sistema sociotécnico como um todo. Mesmo que se obtenha algum ganho com a intervenção micro, tais como redução de dor, desconforto, e mesmo um ganho de produtividade, as ações micro não conseguem ser tão eficientes em comparação com as intervenções macro orientadas. Com a visão macroergonômica, é possível auferir a melhoria das condições de trabalho, saúde e segurança, e reduzir perdas (de saúde, de segurança, de tempo, de materiais,  de produção) e, portanto, aumentar a performance organizacional.

A questão de custos-benefícios da ergonomia  é abordada por  Hendrick (1996) em seu artigo intitulado "Good Ergonomics is Good Economics" (boa ergonomia é boa economia). O autor  mostra que as melhorias obtidas com a macroergonomia geram ganhos de performance para o sistema na ordem de 60% a 90%, enquanto com projetos pontuais, em nível individual ou microergonomia (melhorias no posto, no meio ambiente ou na interface humano-computador), os ganhos são de 10% a 25%. 

Em 2003, o artigo foi traduzido para o português por Stephania Padovani com revisão de Marcelo M. Soares e publicada pela ABERGO. A versão  "Boa ergonomia é boa economia" está em anexo e pode ser acessada em http://ftp.demec.ufpr.br/disciplinas/TM802/boa_ergonomia_boa_economia.pdf

Da macroergonomia à ergonomia macro/cultural/comunitária/ecológica/sustentável 

DesenhoSociotecnico_page-0001.jpg

Guimarães, L.B. de M. (2020) Macroergonomia e Sustentabilidade. In Press

Garcia-Acosta et al. (2014) Ergoecology: fundamentals of a new multidisciplinary field. Theoretical Issues in Ergonomics Science, 15(2):111–133 

   

Moray, N. (1995) Ergonomics and the global problems of the twenty-first century. Ergonomics​ 38(8):1691-1707 

Leis de incentivo à ergonomia

Derenevich, M.G. (2020) Proposta de framework para análise ergonômica do trabalho sob perspectiva macroergonômica e com foco na NR17 [Diss Acad] PPGEPS/PucPR 

Sebrae (2016) Pequenos negócios em números

Pastore (2011) O custo dos acidentes e doenças do trabalho no Brasil. Palestra proferida no Tribunal Superior do Trabalho 

Mendes, R. (1976) Importance of small factories in occupational accidents in S. Paulo, Brazil Rev. Saúde Pública  10 (4), 315-325 

Simpait (2016) Custo humano e econômico dos acidentes de trabalho 

O sistema sociotécnico proposto por Hendrick e Kleiner já considerava as questões socioeconômicas, educacionais, políticas, legais, culturais (ergonomia cultural) e da comunidade (ergonomia comunitária) no subsistema do ambiente externo, mas os autores não incluíram as questões ecológicas, do meio natural, que afetam a organização, a qual também afeta o meio natural se não houver cuidado com a qualidade de seus produtos e processos. Para tanto, além das questões do ambiente fisico da empresa (aerodispersóides, ruído, temperatura, vibrações, iluminação) que impactam os trabalhadores, as empresas devem atentar para a utilização de matérias primas seguras e de baixo impacto ambiental, reduzir resíduos e reutilizá-los, eliminar poluição, controlar a utilização de recursos energéticos, água e solo nos seus processos, e projetar produtos saudáveis para o ser humano e meio ambiente, tendo consciência de sua responsabilidade com todo o ciclo de vida do produto, inclusive na fase pós-uso. Todas estas questões têm impacto econômico, alem de ambiental, e cabe às empresas repensarem estas questões pois o desperdício de materiais, água, energia, que são gastos desnecessários, podem e devem ser evitados.  A redução destes gastos representam ganhos não só para as empresas, mas para toda a sociedade e meio ambiente.

 

É crucial que as questões ecológicas sejam consideradas para se atingir o pleno desempenho do sistema natural, humano e construído e por isso esta rede precisa de colaboradores das mais diversas áreas de interesse da ergonomia em conjunto com os colaboradores da rede sustentabilidade pois a ideia é que as redes trabalhem juntas. Este é um objetivo audacioso demais para um só ergonomista, mas ergonomia não se faz sozinho: na sua essência, a ergonomia é inter, multi e transdisciplinar e o trabalho colaborativo, em rede, é um caminho para atingir os objetivos do desenvolvimento sustentável. 

Basicamente, pode-se considerar o desenho de Guimarães (2020) como representativo do sistema sociotécnico adotado nesta plataforma, e a seguinte definição de macroergonomia:  é a abordagem que considera a integração das questões no domínio da ergonomia física, cognitiva e organizacional sob uma perspectiva sociotécnica, ou seja, considera os subsistemas do sistema sociotécnico (e suas interações) a saber: subsistema pessoal (demografia, capacitação[conhecimento, habilidades], motivação), tecnológico (projeto de trabalho, máquinas/ferramentas de hardware e software), projeto organizacional (processos, gerenciamento, cultura organizacional), ambiente interno (físico-ambiental, psicossocial) e ambiente externo.

 

Um sistema sociotécnico sustentável depende do equilíbrio dos fatores: social, econômico, educacional, cientifico-tecnológico, político, legal, cultural, espacial, da comunidade e ecológico, entre outros, que impactam (e são impactados por) o sistema sociotécnico e seu ecossistema.

As bases conceituais  e os objetivos  propostos nesta plataforma estão de acordo com os da ergoecologia (Garcia-Acosta et al., 2014): abordagem sistêmica (macro) e conceito de sustentabilidade, para balancear o sistema sociotécnico e o ecossistema, o que já tinha sido proposto como futuro da ergonomia por Neville Moray, em 1994, na sua palestra magna no 12th Congresso da IEA, em Toronto, Canada, quando desafia os ergonomistas a enfrentar os problemas globais. Em 1995 ele publica, na Ergonomics, um artigo sobre estes problemas e pergunta  como a ergonomia pode contribuir para um mundo melhor.

 

A proposta da plataforma é contribuir para um mundo melhor juntando aos esforços de autores que também seguiram Moray (e.g., Colin Drury, Klaus Fischer, Karen Lange Morales, Pat Scott, Andrew Thatcher, Peter Vink, Klaus Zink) e que vêm chamando a atenção para a importância de associar ergonomia e sustentabilidade, tendo sido criado, em 2008, o Comitê Técnico de Ergonomia e Desenvolvimento Sustentável da IEA.

Em 2020, foi criado o Grupo Técnico Macroergonomia (GT Macro) da Abergo que lida com questões de sustentabilidade.

Assista a palestra "Ergonomia, Fatores Humanos e Desenvolvimento Sustentável" que inaugurou o XX Congresso ABERGO | ABERGO Virtual 2020, e que foi proferida pelo então coordenador do Comitê Técnico de Ergonomia e Desenvolvimento Sustentável da IEA, prof. Andrew Thatcher, da Universidade de Witwatersrand/Africa do Sul. 

No Brasil, as empresas têm obrigação legal de otimizar seus sistemas de trabalho desde a década de 1940, com o Decreto-Lei nº 5.452, de 1943, da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) composta por oito capítulos, sendo o quinto especifico para Segurança e Medicina do Trabalho. Mas só mais tarde, em 08 de junho de 1978, a Portaria nº 3.214 aprovou as Normas Regulamentadoras - NR - do Capítulo V, Título II, da CLT, relativas à Segurança e Medicina do Trabalho e, entre estas, a Norma Regulamentadora 17 - NR17 especifica de ergonomia que

visa estabelecer parâmetros que permitam a adaptação das condições de trabalho às características psicofisiológicas dos trabalhadores, de modo a proporcionar um máximo de conforto, segurança e desempenho eficiente”.

A versão de 1978 da NR17 foi atualizada em 1990, pela Portaria MTE/MPS nº 3.751 de 23/11/1990, em 2007 pelas Portarias SIT 8/2007 (DOU 02/04.2007), SIT 9/2007 (DOU 02/04/2007) e SIT 13/2007 (DOU 26/06/2007) e em 2018 pela Portaria MTb 876/2018 (DOU 26/10/2018).

Em 30 de agosto de 2019, uma nova redação da NR17 foi submetida à consulta pública (até 28 de setembro de 2019) e as sugestões enviadas para a Secretaria de Trabalho, para análise e elaboração  da proposta de texto a ser encaminhada a grupo tripartite (formado por representantes do governo, de trabalhadores e empregadores) para discussão e aprovação. O grupo tripartite deverá encaminhar a proposta de texto final a ser discutida e aprovada no âmbito da Comissão Tripartite Paritária Permanente – CTPP.

Apesar das várias alterações na lei, a  NR17 é micro orientada, focando as questões físicas (dos seres humanos e ambiente de trabalho) pouco abordando as questões do desempenho do sistema de trabalho. Cabe aos ergonomistas desenvolver, nas empresas, ações que não se limitem ao cumprimento da lei, mas que  otimizem os sistemas de trabalho para que sejam seguros, respeitosos, agradáveis, com baixo impacto ambiental e eficientes, garantindo, assim, o bom desempenho social, humano, ecológico e econômico dos sistemas sociotécnico e natural.

Um passo neste sentido é o framework/guia de Derenevich (2020) para a Análise Ergonômica do Trabalho (AET) solicitada no item 8.4 do Anexo II da Norma Brasileira de Ergonomia (NR17).  O framework/guia denominado DANMA atende todos os itens/diretrizes das três partes da norma (corpo, Anexo I e Anexo II) mas foram incluídos itens de macroergonomia para que as ações ergonômicas garantam não só os ganhos para os humanos (satisfação, saúde, segurança, qualidade de vida) mas também para a organização (aumento de qualidade da produção/produtos, produtividade e performance). O DANMA pode ser solicitado neste link, ou selecionado Guia NR17/Macro em Ergonomia/Iniciativas.

 

A recente revisão da NR17 (que ainda está em análise pelo grupo tripartite) dispõe que todas as empresas são obrigadas a apresentar uma análise ergonômica preliminar, sendo  a AET (entendida como uma análise mais aprofundada) obrigatória apenas para as situações mais graves de empresas de maior porte ou que apresentam risco, o que deixa de fora quase a totalidade das empresas Brasileiras já que, segundo o Sebrae (2016), 99% das empresas Brasileiras, que respondem por 54% dos empregos formais, são micro ou pequenas. Justamente estas, pelo estudo de Mendes (1976), tem 3,77 vezes e 1,96 vezes mais chance de risco de acidente grave quando comparado com empresas grandes e médias, respectivamente. Um estudo de Pastore (2011) estimou em R$ 71 bilhões/ano os custos de acidentes no Brasil, quase o orçamento do Ministério da Saúde que foi de R$ 77 bilhões na época (Sinpait, 2016). O problema é que o risco de uma empresa (leve, médio ou grave) não é determinado pelas condições de trabalho, mas sim pela taxa de acidentes do trabalho esperada pelo tipo de atividade preponderante conforme o código CNAE (Classificação Nacional de Atividades Econômicas). Uma empresa pode ser enquadrada como de risco leve mas apresentar condições de trabalho que impõem alto risco e estas condições permanecerão pois a empresa não será obrigada a apresentar uma AET que apontaria para os problemas a serem resolvidos.

 

Notar, no entanto, que ergonomia, com o objetivo de melhoria de desempenho do sistema como um todo, deveria ser de interesse das empresas (e dos governos), não importando seu porte, grau de risco e independentemente da obrigatoriedade de atendimento à norma. Se o problema da AET é que os empresários não querem pagar pela ergonomia na empresa, o governo poderia contribuir deduzindo os custos com ergonomia do imposto de seguridade social que é pago pelas empresas e trabalhadores (risco leve 1%, risco médio 2% e risco alto 3% sobre o total das remunerações pagas a título de salário). Assim,, ao invés de usar este imposto para pagar os bilhões que custam os acidentes (que na realidade, nunca são pagos pois qualquer perda não tem preço), pequena parte dele estaria sendo usada para arcar com a boa ergonomia nas empresas, e a sociedade estaria pagando por saúde e segurança ao invés de pagar por lesões, acidentes e mortes.

 

Uma empresa com boa ergonomia reduz acidentes e, portanto, o custo para o país. Ergonomia, saúde, segurança deveriam ser uma politica de Estado mas cabe também, aos ergonomistas, mudar sua linguagem e divulgar a ergonomia como instrumento de otimização dos sistemas sociotécnicos (que quando otimizados dão lucro), e não apenas para analisar postos de trabalho e atender à NR17. 

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