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A proposta por trás da rede Sustentabilidade do EcoInnovate4Sustain

O foco da rede Sustentabilidade é lidar com materiais residuais[LG1] 

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mudanças no pensamento

A plataforma pretende viabilizar mudanças no pensamento linear atual de que produção e consumo podem ser tocados a qualquer custo, não considerando nem o esgotamento de recursos e nem o aumento de poluição, já que eles são a base do desenvolvimento, mesmo que isto impacte negativamente a sociedade e o planeta.

Mas o que é desenvolvimento e qual é o custo desse modelo do século passado?

Ele foi herdado da revolução industrial, e é insustentável, porque desperdício e dano socioambiental são caros sob o ponto de vista econômico, social e ambiental.

O pensamento contemporâneo, mais sustentável, é que o uso intensivo e indiscriminado de recursos e o aumento de dejetos tem alto impacto na sociedade e no meio ambiente. Portanto, o desenvolvimento tem que ser mais racional, considerando que a produção não depende somente de máquinas e materiais, mas também dos seres humanos que as projetam e operam, os quais são parte da teia social junto daqueles que consomem/usam o que é produzido.

 

Para que o desenvolvimento seja sustentável, o meio ambiente e o meio social precisam ser respeitados, e não podem valer menos do que as questões de ordem econômica. Aqui é importante salientar que o modelo linear de produção e consumo não considera, nos cálculos econômicos, o custo das perdas de materiais, energia, mão de obra, transporte etc. envolvidos na extração de matéria prima, produção, consumo e descarte. Se fossem, talvez o modelo já tivesse sido superado.

Busca do desenvolvimento sustentável

Meadows, D. H., Meadows, D. H. L., Randers, J., Behren III, W. W. (1972). The limits of growth, The Club of Rome's Project New York, Universe Books. Versão brasileira publicada em 1973: Limites do Crescimento: Um relatório para o projeto do Clube de Roma sobre o dilema da humanidade. São Paulo: Editora Perspectiva.

Ecodesenvolvimento

A questão do desenvolvimento sustentável vem sendo debatido desde a Conferência das Nações Unidas, realizada em Estocolmo em 1972, com base no relatório “Limites do Crescimento” elaborado em 1971 por uma equipe do MIT, por solicitação do Clube de Roma. Ele apontava o problema da explosão demográfica e da pressão que isto exercia sobre o equilíbrio dos ecossistemas e o esgotamento dos recursos não-renováveis do planeta. Para evitar a fome, escassez de recursos naturais, altos níveis de poluição, o relatório recomendava a adoção de uma política mundial de contenção do crescimento.

Este relatório foi utilizado nas reuniões preparatórias para a Conferência das Nações Unidas, tendo sido elaborado o conceito de ecodesenvolvimento: um desenvolvimento baseado na potencialidade de cada ecossistema, levando em conta a participação das populações locais, a redução dos desperdícios de qualquer ordem e a reciclagem dos resíduos.

Apesar da proposta de que o estado de equilíbrio poderia ser planejado de forma a garantir o atendimento das necessidades básicas e de oportunidades de realização do potencial humano, os países em desenvolvimento, liderados pelo Brasil e Índia, entenderam que a adoção dessa política de “crescimento zero” condenaria a maioria dos países a um permanente subdesenvolvimento, pois mantinha a divisão territorial do trabalho e os conflitos e as contradições entre o “norte desenvolvido” e o “sul subdesenvolvido”.

O que foi aprovado na Assembleia Geral das Nações Unidas de 1972, foi a proposta para a criação do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente – PNUMA, com o objetivo de catalisar e coordenar as atividades de proteção ambiental. A partir  de 1972, vários movimentos em prol do meio ambiente e justiça social tiveram inicio em todo o mundo.

Tentando corrigir as distorções do primeiro modelo, o relatório do Clube de Roma sofreu alterações em  1973, focando em energia, e também em 1976, quando foram incorporadas as questões sociais de desigualdade de renda média (numa relação de 13/1) entre países ricos e pobres.

5 Dimensões do Desenvolvimento Sustentável na conferência Rio-92

Triple-Bottom-Line, TBL ou 3P

Elkington, J. (1997) Cannibals with Forks: Triple Bottom Line of 21st Century Business. Oxford: Capstone Publishing Ltd.

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Economia Verde na Conferência RIO+20

PNUMA (2011) Rumo a uma economia verde: caminhos para o Desenvolvimento Sustentável e a Erradicação da Pobreza – Síntese para Tomadores de Decisão www.unep.org/greeneconomy.

Enquanto o conceito de desenvolvimento sustentável orientou a ECO92, vinte anos depois, a Conferência RIO+20 teve como guia o conceito de “Economia Verde” para novas políticas de desenvolvimento, como a maior inclusão das questões sociais no desenvolvimento, com maior ênfase das questões sociais no desenvolvimento, produção, consumo e descarte dos produtos utilizados.

Assista a uma palestra de Sergio Basserman Vianna (economista) sobre meio ambiente, Economia Verde e expectativas para a Rio+20, no 2º Seminário Internacional BPC, BRICS Policy Center, publicado em 14/06/2012.

Assista ao vídeo do programa Cidades e Soluções sobre as expectativas para a Rio+20 exibido em 06/06/2011

Assista à entrevista do ex ministro do Meio Ambiente Jose Goldemberg que compara o cenário mundial da Rio 92 com o da Rio+20. Pesquisa Fapesp publicado em 05/03/2012.

A avaliação da Rio+20, em geral, não foi boa: o interesse das autoridades pela Conferência foi  questionado, pois dos 30 países mais ricos do mundo, apenas 17 enviaram chefes de Estado. Além disso, o documento preparado para ser debatido na Conferência foi alvo de críticas, tendo sido considerado fraco.

Resumidamente, a avaliação foi de frustração, pois falou-se muito sem concluir nada, já que, de certa forma, os governos abdicaram da responsabilidade em relação ao desenvolvimento sustentável. Para muitos, o Brasil, como anfitrião e como país com maior biodiversidade no mundo, perdeu uma oportunidade de assumir uma posição de liderança na Conferência e se promover como país de vanguarda e líder mundial na área de sustentabilidade.

 

Assista à avaliação da Conferência Rio+20 feita pela ex-ministra do Meio Ambiente Marina Silva, em entrevista à Record News em 21/06/2012 (Clique aqui para assistir a entrevista).

Assista à avaliação da Conferência Rio+20 por Sergio Basserman Vianna (economista), Sérgio Abranches (sociólogo) e Ana Toni (presidente do Conselho do Greenpeace Internacional) no programa Observatório da Imprensa, de Alberto Dines, em 27/06/2012

 

Em 2009, o PNUMA substituiu o conceito de ecodesenvolvimento pela Economia Verde, “uma economia que resulta em melhoria do bem-estar da humanidade e igualdade social, ao mesmo tempo em que reduz os riscos ambientais e a escassez ecológica”  a partir  de tecnologias ambientalmente corretas, que protejam o meio ambiente e ao mesmo tempo impulsionem o crescimento econômico.

A Economia Verde tem três características principais: 1) baixa emissão de carbono; 2) eficiência no uso de recursos para conservação da biodiversidade e preservação dos serviços ambientais e; 3) busca pela inclusão social e diminuição das desigualdades entre ricos e pobres, para melhoria da qualidade de vida de todos, por meio de oferta de empregos, consumo consciente, reciclagem, reutilização de bens, uso de energia limpa e valoração da biodiversidade.

A Economia Verde sofre críticas de acadêmicos e ONGs, que consideram que a ideia de valorar o meio ambiente através de mecanismos tradicionais de mercado é um ambientalismo de mercado, e a atribuição de valor monetário a bens naturais, como a flora, fauna, água e ar não é viável. As críticas são inclusive quanto às operações de compensação ambiental para áreas ou recursos naturais degradados pois é impossível comparar, com precisão, o valor natural de um local com outro, já que cada um é único.

Objetivos de Desenvolvimento Sustentável do Milênio

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Iniciativas em processos e produtos visando a sustentabilidade

Ecoeficiência e 3Rs (Reduzir, Reutilizar, Reciclar)

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Ecoeficácia, ZERI e Economia Azul

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O conceito de ecoeficiência evoluiu, então, para o conceito da ecoeficácia, que considera que os resíduos que seriam descartados ou reciclados devem ser reutilizados em outros processos. é o caso de algumas empresas brasileiras que estão usando resíduos de outras empresas como matéria prima para novos produtos.

Já existem bancos de compra e venda de resíduos, como a Bolsa de Resíduos da Firjan, da Fiesp, Sistema Integrado de Bolsa de Resíduos, plataforma Polen, e B2Blue.

Veja o vídeo do programa Cidades e Soluções da GloboNews exibido em 12/12/2016 que apresenta alguns exemplos.

Este tipo de iniciativa entre empresas é promovido pela Zero Emission Research Initiative (ZERI) que, de início, era uma filosofia mas se converteu em uma metodologia. Hoje, a ZERI é uma rede global para buscar soluções para problemas mundiais de impacto no planeta, baseado na ideia de que as soluções para os desafios da humanidade estão nos sistemas naturais.

Para Gunter Pauli (1998), basta examinar a natureza melhor. Se imitarmos as soluções do meio ambiente, vamos atingir sustentabilidade. A natureza não produz lixo: o que é dejeto vira insumo. Com base no funcionamento dos ecossistemas, pode-se criar soluções e oportunidades criativas e inovadoras de desenvolvimento sustentável, equilibrando a sustentabilidade social, económica e ambiental.

Como quase todas as tecnologias necessárias para atender as necessidades básicas dos seres humanos  já foram inventadas, a verdadeira criatividade está em se fazer as conexões, integrando inovações que permitam gerar múltiplos benefícios, inclusive a geração de emprego e capital social (upsizing).

A ZERI está dentro do modelo de Economia Azul, proposto por Gunter Pauli na Eco 92.

Gunter Pauli considera que a Economia Verde, do baixo carbono, sem tóxicos e com energia renovável, faz com que as empresas injetem mais recursos, que os investidores invistam mais dinheiro, e que os consumidores paguem mais caro pelos produtos mais ecológicos, sendo que as taxas de retorno são baixas, resultando que o que é bom para o meio ambiente é sempre mais caro.

Sendo eficiente em alguns aspectos, ela acaba se convertendo em uma economia para os ricos. A Economia Verde pode funcionar para uma pequena parte da população mundial, onde a economia está indo bem, mas não é suficiente para solucionar os desafios do planeta pois existe crise econômica, com altas taxas de desemprego em muitos lugares.

Para entrar na esfera da inovação social, é necessário sair do mundo dos negócios tradicional. Uma empresa não sobreviverá se focar somente no seu fluxo de caixa. Ela precisa atender o “cliente” e o cliente não quer um produto barato porque é de baixa qualidade, não quer pobreza, nem problemas gastrointestinais por falta de agua potável...

A Economia Azul (porque o planeta é azul, da cor do mar) propõe mudanças estruturais na economia, de forma que o bom é barato e o indispensável é grátis. Deve haver um investimento maior nos produtores locais e no aproveitamento dos recursos naturais, buscando a transformação e a eliminação dos dejetos, de forma a fechar um ciclo autossustentável. Um exemplo é o aproveitamento do café: com o que é descartado, pode se cultivar cogumelos de grande qualidade nutricional. Desta forma, os produtores de café podem quadruplicar o lucro com o material que iria para o lixo.

Assista a uma entrevista com Gunter Pauli, explicando porque a Economia Verde não está atendendo as necessidades do planeta. E uma palestra onde ele dá exemplos de projetos bem sucedidos, inclusive no Brasil, e explica o que é o pensamento sistêmico.

A Economia Azul/ZERI foca principalmente nas questões sociais, nas oportunidades de negócios, e enfatiza a importância dos empreendedores. Entretanto, por melhor que seja a ideia de utilização de materiais locais e de que o resíduo de um processo seja reutilizado como recurso em outro, ampliando assim os negócios, a linearidade do sistema de produção continua prevalecendo se o projeto de produtos continuar sendo berço-ao-túmulo. é preciso repensar, também, o projeto de produtos e, para tanto, a Economia Azul/ZERI tem promovido o desenvolvimento de produtos berço-a-berço.

McDonough, W. e . Braungart, M. (2002) Cradle to cradle, Remaking the way we make things. North Point Press.

 

McDonough, W. e . Braungart, M. (2014) Cradle to cradle,  Criar e reciclar ilimitadamente. Gustavo Gili.

O conceito de projeto berço-a-berço (cradle2cradle) ou C2C , difundido no livro de William McDonough e Michael Braungart  (2002, 2014) é uma das bases da Economia Circular.

Estes autores propõem estratégias para a concepção de produtos C2C e processos produtivos dentro de uma Economia Circular (ver as publicações da Ellen MacArthur Foundation, sendo que duas são sobre o Brasil, pois a Fundação está no país desde 2015), a partir do princípio do uso cíclico dos materiais, considerando que, no fim do ciclo de uma vida, eles serão reprocessados para iniciar um outro ciclo de vida. Desta forma, não há um túmulo para os produtos, pois eles se transformam para reiniciar uma nova vida, tendo assim um novo berço.

Luisa Santiago, representante da Ellen MacArthur Foundation Brasil, apresentou a Fundação no GloboNews Prisma 2018. Veja o vídeo de 5/5/2018 (Clique aqui para ver o vídeo).

Para que haja circularidade, os designers têm que projetar um produto já pensando que ele terá uma segunda vida, ou mais de duas. Assim, as perdas são menores, porque o produto não será reciclado, mas sim, reestruturado para assumir um outro ciclo de vida.

Um exemplo interessante de produto já projetado com duas vidas é  a tampinha de garrafa de refrigerante CleverPack projetada por Claudio Patrick Vollers para ser um brinquedo (tipo Lego) e evitar, assim, o descarte. A tampinha foi premiada no IF Design 2014.

Veja o projeto que foi apresentado no programa Cidades e Soluções exibido em 03/09/2014 (Clique aqui para ver o programa). 

Em termos de processo, uma indústria C2C na Economia Circular deve se organizar para que os recursos sejam geridos em uma  lógica circular de criação e reutilização, em que cada passagem de ciclo se torna um novo ‘berço’ para determinado material. Dessa forma, o modelo linear é substituído por sistemas cíclicos,  permitindo que recursos sejam reutilizados indefinidamente e circulem em fluxos seguros e saudáveis para os seres humanos e para a natureza.

Note que a Economia Circular não fala em reciclagem, mas em recirculação e transformação dos materiais. A filosofia é de uma economia restaurativa do capital natural e, para isto, as indústrias devem projetar produtos com este foco e alterar seus sistemas de produção e distribuição a fim de permitir a recirculação de materiais.

Para que os resíduos possam ser reutilizados, há necessidade de se pensar nas matérias primas que serão utilizadas (que não sejam tóxicas, que não esgotem o planeta etc.), como serão utilizadas sem recorrer à mais extração de matéria prima da natureza, e como retornam para o local de reprocessamento.

A transformação de materiais pode ocorrer em dois ciclos ou metabolismos: o biológico (quando o material se torna nutriente na natureza) ou o técnico (quando é incorporado novamente no sistema fabril).

Diferenciar 2 tipos de produto

Produto de consumo a ser processado no metabolismo biológico

Economia Circular e Economia de Performance

A pressão econômica do Triple-Bottom-Line

A lógica C2C faz a diferenciação entre dois tipos de produtos: os de consumo e os de serviço.

Os produtos de consumo, como os de limpeza, higiene, embalagens, vestuário, devem ter como insumos os nutrientes biológicos que, assim, no fim de sua vida, podem ser processados no metabolismo biológico de forma a enriquecer o meio ambiente ao invés de contaminá-lo. 

Dependendo do tipo de material utilizado nos produtos de consumo, ele pode ter uma ou mais vidas: no caso de uma vida, ele pode ser compostado diretamente, e quando puder ter mais de uma, são reprocessados um máximo de vezes para diversos usos consecutivos, só voltando para  o meio biológico quando se degradarem. Isto porque, no seu reprocessamento, vai havendo perda de valor da matéria prima original, mas como são seguros, podem retornar para a biosfera quando não puderem mais ser restaurados.

Nutrientes biológicos são materiais orgânicos, mas também materiais como biopolímeros e outros sintéticos que são seguros para os seres humanos e para os sistemas naturais.

Os produtos de serviço, como automóveis e eletrodomésticos, são geralmente produzidos com nutrientes técnicos, e projetados desde o início para o reuso no metabolismo técnico.

São considerados produtos de serviço pois seu valor para o usuário não está no produto em si, mas no serviço que ele proporciona, como transporte, roupas e casas limpas, processamento, resfriamento e aquecimento de alimentos, entretenimento, etc.

Nutrientes técnicos são frequentemente de matéria sintética ou mineral, que podem permanecer com segurança no ciclo fechado de fabricação. Eles são duráveis, não perdem suas propriedades ao longo do tempo e, portanto, ao fim de um ciclo de vida útil, podem ser transformados em novos produtos sem perda de seu valor.

Um exemplo de produto de serviço C2C é o pneu Timberland, que já foi projetado para ser transformado em solados de sapatos da própria empresa, sem os gastos que haveriam se os pneus fossem encaminhados para reciclagem.

A Economia Circular propõe que as empresas fabricantes de produtos de serviço considerem migrar do modo atual de venda para um modelo de arrendamento (leasing), locação ou compartilhamento. Isto traz vantagens tanto para a gestão circular de recursos e materiais quanto para a fidelização do relacionamento com o cliente. O cliente, que deixa de ser um consumidor para ser um usuário do serviço, se beneficia porque não precisa se preocupar em trocar, reparar ou descartar os produtos. A própria empresa se incumbe de substitui-los para depois serem reprocessados no metabolismo técnico.  

Esta ideia vem de Walter Stahel, que cunhou o termo C2C e é fundador do Product Life Institute. Ele defende a extensão da vida do produto, recondicionamento e prevenção de desperdício mas, principalmente, a importância de vender serviços ao invés de produtos, conceito denominado Economia de Performance ou Economia de Serviço Funcional.

A dificuldade de evitar envio para aterros

O problema dos lixões

E a Política Nacional de Resíduos Sólidos?

Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS instituída pela lei Nº 12.305, de 2 de Agosto de 2010)

Plano Brasil Maior (PBM) de 2011, a política industrial, tecnológica, de serviços e de comércio exterior do país que sucedeu a Política de Desenvolvimento Produtivo (a PDP), de 2008, e a Política Industrial, Tecnológica e de Comércio Exterior (PITCE), de 2004.

Lei 11.196/05 ou Lei do Bem, de 2005, que concede incentivos fiscais às empresas que realizam pesquisa e desenvolvimento de inovação tecnológica, aproximando a relação entre universidades e institutos de pesquisa e o setor privado e potencializando os resultados em P&D

Políticas brasileiras de apoio a APLs.

 

Politicas federais, estaduais ou municipais de apoio e incentivo ao desenvolvimento social, ambiental e econômico.

A proposta da rede Sustentabilidade do 

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EcoInnovate Sustain

A ideia da rede Sustentabilidade surgiu de um levantamento de iniciativas e propostas de projetos que buscam o desenvolvimento de novas soluções para minimização de recursos (materiais, energia, água, solo), reaproveitamento, reuso e reciclagem de materiais descartados, que tenham impacto ecológico, social, cultural, espacial e econômico  positivos.

A plataforma pretende ser um fórum para identificar, discutir e contribuir, principalmente, para iniciativas e projetos que usam recursos que não são usados, são desperdiçados, ou são descartados. Portanto, visa o desenvolvimento de novas soluções pelo reaproveitamento, reuso e reciclagem de materiais

A pergunta da rede Sustentabilidade do 

EcoInnovate Sustain

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Como podemos promover o desenvolvimento sustentável em diversas regiões brasileiras, utilizando os recursos materiais (sem uso) e sociais locais, para reduzir o uso de insumos, reduzir geração de resíduos/lixo, e gerar trabalho e renda conservando o território e a cultura local?​

O foco da rede Sustentabilidade é lidar com materiais residuais

 

​Como o leque de contribuições para um mundo sustentável é muito amplo, o foco principal desta rede é lidar com materiais residuais disponíveis, que são descartados como lixo, mas que podem ser utilizados em diferentes novos contextos gerando impacto positivo para o meio ambiente (já que deixam de se acumular em aterros ou lixões) e para a sociedade (já que podem gerar novas oportunidades de trabalho e renda). O que é considerado lixo (um problema) passa a ser então considerado matéria prima (um recurso).

A utilização de resíduos ou produtos descartados é um meio mais sustentável de suprimento das cadeias de produção. Com o reprocessamento, não é necessário extrair matéria prima da natureza (o que é bom para o planeta) e ter todo o custo de  manufatura para sua transformação (o que é bom para a empresa). Além disso, não há o custo do descarte de material (o que é bom para o planeta e para a empresa). Quanto menor for o volume de extração e deposição,  e quanto mais intenso o ciclo circular dos materiais, mais sustentável se torna a cadeia de produção, consumo e logística. Além disso, abre-se novas oportunidades de trabalho dentro da cadeia, o que é importante dado o alto índice de desemprego no país.  

Mudança de pensamento

A plataforma pretende viabilizar mudanças no pensamento linear atual de que produção e consumo podem ser tocados a qualquer custo, não considerando nem o esgotamento de recursos e nem o aumento de poluição, já que eles são  parte do desenvolvimento, mesmo que isto impacte negativamente a sociedade e o planeta.

Mas o que é desenvolvimento e qual é o custo desse modelo do século passado?

Ele foi herdado da revolução industrial, e é insustentável, porque desperdício e dano socioambiental são caros sob o ponto de vista econômico, social e ecológico.

O pensamento contemporâneo, mais sustentável, é que o uso intensivo e indiscriminado de recursos e o aumento de dejetos tem alto impacto na sociedade e no meio ambiente. Portanto, o desenvolvimento tem que ser mais racional, considerando que a produção não depende somente de máquinas e materiais, mas também dos seres humanos que as projetam e operam, os quais são parte da teia social junto daqueles que consomem/usam o que é produzido.

 

Para que o desenvolvimento seja sustentável, o meio ambiente e o meio social precisam ser respeitados, e não podem valer menos do que as questões de ordem econômica. Aqui é importante salientar que o modelo linear de produção e consumo não considera, nos cálculos econômicos, o custo das perdas de materiais, energia, mão de obra, transporte etc. envolvidos na extração de matéria prima, produção, consumo e descarte. Se fossem, talvez o modelo já tivesse sido superado.

Busca do desenvolvimento sustentável

Meadows, D. H., Meadows, D. H. L., Randers, J., Behren III, W. W. (1972). The limits of growth, The Club of Rome's Project New York, Universe Books. Versão brasileira publicada em 1973: Limites do Crescimento: Um relatório para o projeto do Clube de Roma sobre o dilema da humanidade. São Paulo: Editora Perspectiva

A questão do desenvolvimento sustentável vem sendo debatida desde a Conferência das Nações Unidas, realizada em Estocolmo em 1972, com base no relatório “Limites do Crescimento” elaborado em 1971 por uma equipe do MIT, por solicitação do Clube de Roma. Ele apontava o problema da explosão demográfica e da pressão que isto exercia sobre o equilíbrio dos ecossistemas e o esgotamento dos recursos não-renováveis do planeta. Para evitar a fome, escassez de recursos naturais, altos níveis de poluição, o relatório recomendava a adoção de uma política mundial de contenção do crescimento.

Ecodesenvolvimento

Este relatório foi utilizado nas reuniões preparatórias para a Conferência das Nações Unidas, tendo sido elaborado o conceito de ecodesenvolvimento: um desenvolvimento baseado na potencialidade de cada ecossistema, levando em conta a participação das populações locais, a redução dos desperdícios de qualquer ordem e a reciclagem dos resíduos.

Apesar da proposta de que o estado de equilíbrio poderia ser planejado de forma a garantir o atendimento das necessidades básicas e de oportunidades de realização do potencial humano, os países em desenvolvimento, liderados pelo Brasil e Índia, entenderam que a adoção dessa política de “crescimento zero” condenaria a maioria dos países a um permanente subdesenvolvimento, pois mantinha a divisão territorial do trabalho e os conflitos e as contradições entre o “norte desenvolvido” e o “sul subdesenvolvido”.

O que foi aprovado na Assembleia Geral das Nações Unidas de 1972, foi a proposta para a criação do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente – PNUMA, com o objetivo de catalisar e coordenar as atividades de proteção ambiental. A partir  de 1972, vários movimentos em prol do meio ambiente e justiça social tiveram inicio em todo o mundo.

Tentando corrigir as distorções do primeiro modelo, o relatório do Clube de Roma sofreu alterações em  1973, focando em energia, e também em 1976, quando foram incorporadas as questões sociais de desigualdade de renda média (numa relação de 13/1) entre países ricos e pobres.

5 Dimensões do Desenvolvimento Sustentável na Conferência Rio-92

Foi a partir do Relatório Brundtland – resultado da World Commission on Environment and Development (WCED) (Comissão Mundial para o Meio Ambiente e Desenvolvimento), publicado em 1987 com o título “Nosso Futuro Comum”– que a noção de desenvolvimento sustentável passou a se consolidar junto a pesquisadores e ativistas, e também a ganhar adesão política, inclusive de países em desenvolvimento. Ao invés de crescimento zero, a proposta era de aceleração do desenvolvimento, principalmente tecnológico, com base em “mecanismos de desenvolvimento limpo”.

O relatório foi decisivo para o encaminhamento da Conferência Rio-92, cujo documento base foi preparado por Ignacy Sachs (1991) por solicitação da UNCED 92. 

O conceito de desenvolvimento sustentável não foca apenas os fatores ecológicos e econômicos, devendo abranger, também, as dimensões social, cultural e espacial, conforme proposto por Sachs (1991) no documento que orientou a ECO92. Na ocasião, os 179 países participantes assinaram o documento da Agenda 21. 

Em 2002, Sachs ampliou de cinco para oito, as dimensões da sustentabilidade: social, cultural, ecológica, ambiental, territorial, econômica, política nacional e política internacional.

Assista ao vídeo sobre a Conferência Rio-92 (ou Cúpula da Terra), preparado pela ONU, publicado pela ONU Brasil em 17/12/2011.

Assista à entrevista de Ignacy Sachs na TV Cultura, em 10/12/2011.

Assista à entrevista que Gro Brundtland (ex Primeira Ministra da Noruega, diretora geral da World Health Organization (WHO) de 1998 a 2003, e presidente da Comissão Brundtland, da Organização das Nações Unidas entre 1983 e 1987)  deu à TV Cultura, em outubro de 2011, quando ela veio ao Brasil. Ela comenta sobre os avanços em relação ao desenvolvimento sustentável, 20 anos depois de seu lançamento.

Triple-Bottom-Line, TBL ou 3P

Elkington, J. (1997) Cannibals with Forks: Triple Bottom Line of 21st Century Business. Oxford: Capstone Publishing Ltd.

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Nos anos 1990, outra proposta para alcançar o desenvolvimento sustentável foi o Triple-Bottom-Line, TBL ou 3P (people, planet, profit) de John Elkington (1997) para quem a sustentabilidade da atividade empresarial  depende do equilíbrio entre os objetivos econômicos (prosperidade econômica), ambientais (qualidade ambiental) e sociais (justiça social).

Ainda hoje, o modelo do TBL é adotado pelas principais empresas no mundo, cujos relatórios de desempenho têm sido avaliados considerando as três dimensões, por  organizações como a Global Reporting Initiative, a AccountAbility, a Bolsa de Valores de Nova York com o Dow Jones Sustainability Index (DJSI), e a Bovespa com o Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE).

Apesar de, na teoria, o TBL presumir que o sucesso de uma organização empresarial deve ser mensurado não apenas em face de variáveis financeiras, mas também pelo seu desempenho social e ambiental, os resultados que vem sendo obtidos não refletem a teoria, pois no difícil casamento entre objetivos ambientais, sociais e econômicos, este último geralmente tem prioridade.

Além do desequilíbrio entre os três objetivos, o TBL fica aquém do que foi proposto para o desenvolvimento sustentável na Eco 92, já que não engloba as dimensões cultural e espacial da sustentabilidade.

 

Assista ao vídeo de John Elkington sobre o TBL

Enquanto o conceito de desenvolvimento sustentável orientou a ECO92, vinte anos depois, a Conferência RIO+20 teve como guia o conceito de “Economia Verde” para novas políticas de desenvolvimento, como a maior inclusão das questões sociais no desenvolvimento, com maior ênfase das questões sociais no desenvolvimento, produção, consumo e descarte dos produtos utilizados.

Economia Verde na Conferência RIO+20

Assista a uma palestra de Sergio Basserman Vianna (economista) sobre meio ambiente, Economia Verde e expectativas para a Rio+20, no 2º Seminário Internacional BPC, BRICS Policy Center, publicado em 14/06/2012. 

PNUMA (2011) Rumo a uma economia verde: caminhos para o Desenvolvimento Sustentável e a Erradicação da Pobreza – Síntese para Tomadores de Decisão www.unep.org/greeneconomy.

Assista à entrevista do ex ministro do Meio Ambiente Jose Goldemberg que compara o cenário mundial da Rio 92 com o da Rio+20. Pesquisa Fapesp publicado em 05/03/2012.

Assista à avaliação da Conferência Rio+20 por Sergio Basserman Vianna (economista), Sérgio Abranches (cientista político e sociólogo) e Ana Toni (presidente do Conselho do Greenpeace Internacional) no programa Observatório da Imprensa, de Alberto Dines, em 27/06/2012. 

A avaliação da Rio+20, em geral, não foi boa: o interesse das autoridades pela Conferência foi  questionado, pois dos 30 países mais ricos do mundo, apenas 17 enviaram chefes de Estado. Além disso, o documento preparado para ser debatido na Conferência foi alvo de críticas, tendo sido considerado fraco.

Resumidamente, a avaliação foi de frustração, pois falou-se muito sem concluir nada, já que, de certa forma, os governos abdicaram da responsabilidade em relação ao desenvolvimento sustentável. Para muitos, o Brasil, como anfitrião e como país com maior biodiversidade no mundo, perdeu uma oportunidade de assumir uma posição de liderança na Conferência e se promover como país de vanguarda e líder mundial na área de sustentabilidade.

 

Em 2009, o PNUMA substituiu o conceito de ecodesenvolvimento pela Economia Verde, “uma economia que resulta em melhoria do bem-estar da humanidade e igualdade social, ao mesmo tempo em que reduz os riscos ambientais e a escassez ecológica”  a partir  de tecnologias ambientalmente corretas, que protejam o meio ambiente e ao mesmo tempo impulsionem o crescimento econômico.

A Economia Verde tem três características principais: 1) baixa emissão de carbono; 2) eficiência no uso de recursos para conservação da biodiversidade e preservação dos serviços ambientais e; 3) busca pela inclusão social e diminuição das desigualdades entre ricos e pobres, para melhoria da qualidade de vida de todos, por meio de oferta de empregos, consumo consciente, reciclagem, reutilização de bens, uso de energia limpa e valoração da biodiversidade.

A Economia Verde sofreu críticas de acadêmicos e ONGs, que consideram que a ideia de valorar o meio ambiente através de mecanismos tradicionais de mercado é um ambientalismo de mercado, e a atribuição de valor monetário a bens naturais, como a flora, fauna, água e ar, não é viável. As críticas são inclusive quanto às operações de compensação ambiental para áreas ou recursos naturais degradados, pois é impossível comparar, com precisão, o valor natural de um local com outro, já que cada um é único.

Objetivos de Desenvolvimento Sustentável do Milênio

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Em 2015, a Assembleia Geral da ONU elaborou 17 objetivos e 169 metas para o desenvolvimento sustentável, a serem atingidas em 2030. Os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) são parte da Resolução 70/1 da Assembleia Geral das Nações Unidas: “Transformando o Nosso Mundo: a Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável" ou “Agenda 2030” e baseiam-se nos princípios acordados na Resolução A/RES/66/288, intitulada "O Futuro que Queremos", um documento que resultou da Conferência Rio+20.

Os ODS acordados por 193 países em setembro de 2015 são: 01 - Erradicação da pobreza; 02 - Fome zero e agricultura sustentável; 03 - Saúde e bem-estar; 04 - Educação de qualidade; 05 - Igualdade de gênero; 06 - Água limpa e saneamento; 07 - Energia limpa e acessível; 08 - Trabalho decente e crescimento econômico; 09 - Indústria, inovação e infraestrutura; 10 - Redução das desigualdades; 11 - Cidades e comunidades sustentáveis; 12 - Consumo e produção responsáveis; 13 - Ação contra a mudança global do clima; 14 - Vida na água; 15 - Vida terrestre; 16 - Paz, justiça e instituições eficazes; 17 - Parcerias e meios de implementação.

Importante chamar a atenção que a Ergonomia pode contribuir diretamente para o ODS 03 - Saúde e bem-estar, ODS 08- Trabalho decente e crescimento econômico e ODS 11 - Cidades e comunidades sustentáveis.

Veja o vídeo do lançamento dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU. 

A Elsevier Foundation, parte do programa de responsabilidade social da Elsevier, empresa editora e fornecedora de informação especializada em ciência e saúde, desenvolveu a RELX SDG Resource Centre, uma plataforma educacional com conteúdo sobre os 17 ODS. Disponibiliza um rastreador de notícias, pesquisas publicadas e eventos. O Elsevier Sustainability Hub fornece uma visão global de como dados podem produzir um entendimento critico sobre sustentabilidade, ciência, gênero, medicina, além de serem ferramentas para tomada de decisão com base em evidencias, e fonte de fomento da inovação que é fundamental para atingimento dos ODS. 

Conceitos e princípios em processos e produtos visando a sustentabilidade

A seguir traçou-se um breve histórico, desde  1987, dos conceitos, princípios técnicas e ferramentas para concepção de negócios, e desenvolvimento de produtos/serviços e processos que procuraram atender um desenvolvimento sustentável, e que são resumidos na tabela em anexo. À exceção da abordagem berço a berço, em geral não se assume que os produtos devem ser projetados para assumir novas funções, evitando seu túmulo (o aterro, os lixões, os rios, as lagoas, os mares...), ou seja, não têm foco na circularidade: geralmente, pensa-se em desenvolver produtos com menos material, na utilização de materiais não tóxicos ou poluentes (como por exemplo, no ecodesign), em facilitar a montagem e desmontagem (como no Design for Environment - DfE) o que facilita a manutenção,  reuso de componentes e/ou a reciclagem, algum tratamento do produto após seu uso, e na reciclagem. Estas técnicas que têm como base a  ecoeficiência sem dúvida impactam positivamente no meio ambiente, mas não no sentido macro, pois não se reduz tanto a quantidade de energia, materiais, processos e produtos no sistema.

Ecoeficiência e 3Rs (Reduzir, Reutilizar, Reciclar)

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Os anos 1990 foram a era do sistema de gestão integrada de resíduos, incorporando o conceito dos 3Rs (Reduzir, Reutilizar, Reciclar) na tentativa de minimizar os resíduos sólidos gerados por indústrias e até mesmo por consumidores. Esta gestão segue o princípio da ecoeficiência que supõe um fluxo linear de materiais através de sistemas industriais: (i) matérias-primas são extraídas do meio ambiente; (ii) estas matérias são transformadas em produtos; (iii) os produtos são descartados no meio ambiente ao fim do ciclo de sua vida útil.

As técnicas de ecoeficiência procuram minimizar o volume, velocidade e toxicidade do sistema de fluxo de material, mas são incapazes de alterar esta progressão linear.  Uma solução para minimizar os danos no final do processo do tipo fim de tubo (end-of-pipe) é a reciclagem de alguns materiais, mas isso geralmente ocorre  com perdas de recursos materiais, energéticos e financeiros, pois os produtos não foram projetados para serem reprocessados.  Assume-se que o produto tem um fim, um túmulo, mas a qualidade deste fim não é considerada no projeto pois eles são concebidos para viverem apenas um ciclo de vida e terminar no túmulo da reciclagem. Mas reciclagem tem um custo de processo além da perda de valor da matéria prima original. Ela é a solução encontrada para tratar o sintoma de um modelo linear insustentável.

Ecoeficácia, ZERI e Economia Azul

Pauli, G. (1998) Upsizing: Como gerar mais renda e criar mais postos de trabalho e eliminar a poluição, Porto Alegre: Fundação Zeri Brasil - L&PM.

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O conceito de ecoeficiência evoluiu, então, para o conceito da ecoeficácia, que considera que os resíduos que seriam descartados ou reciclados devem ser reutilizados em outros processos, formando uma ecologia industrial. É o caso de algumas empresas brasileiras que estão usando resíduos de outras empresas como matéria prima para novos produtos. Já existem bancos de compra e venda de resíduos, como a Bolsa de Resíduos da Firjan, da Fiesp, Sistema Integrado de Bolsa de Resíduos, plataforma Polen, e B2Blue.

Veja em https://globosatplay.globo.com/globonews/v/5509516 o vídeo do programa Cidades e Soluções da GloboNews exibido em 12/12/2016 que apresenta alguns exemplos.

Este tipo de iniciativa entre empresas, formando uma ecologia industrial, é promovido pela Zero Emission Research Initiative (ZERI) que, de início, era uma filosofia mas se converteu em uma metodologia. Hoje, a ZERI é uma rede global para buscar soluções para problemas mundiais de impacto no planeta, baseado na ideia de que as soluções para os desafios da humanidade estão nos sistemas naturais.

Para Gunter Pauli (1998), basta examinar a natureza melhor. Se imitarmos as soluções do meio ambiente, vamos atingir sustentabilidade. A natureza não produz lixo: o que é dejeto vira insumo. Com base no funcionamento dos ecossistemas, pode-se criar soluções e oportunidades criativas e inovadoras de desenvolvimento sustentável, equilibrando a sustentabilidade social, económica e ambiental.

Como quase todas as tecnologias necessárias para atender as necessidades básicas dos seres humanos  já foram inventadas, a verdadeira criatividade está em se fazer as conexões, integrando inovações que permitam gerar múltiplos benefícios, inclusive a geração de emprego e capital social (upsizing).

A ZERI está dentro do modelo de Economia Azul, proposto por Gunter Pauli na Eco 92.

Assista a dois vídeos que explicam o que é Economia Azul.

Gunter Pauli considera que a Economia Verde, do baixo carbono, sem tóxicos e com energia renovável, faz com que as empresas injetem mais recursos, que os investidores invistam mais dinheiro, e que os consumidores paguem mais caro pelos produtos mais ecológicos, sendo que as taxas de retorno são baixas, resultando que o que é bom para o meio ambiente é sempre mais caro.

Sendo eficiente em alguns aspectos, ela acaba se convertendo em uma economia para os ricos. A Economia Verde pode funcionar para uma pequena parte da população mundial, onde a economia está indo bem, mas não é suficiente para solucionar os desafios do planeta pois existe crise econômica, com altas taxas de desemprego, em muitos lugares.

Para entrar na esfera da inovação social, é necessário sair do mundo dos negócios tradicional. Uma empresa não sobreviverá se focar somente no seu fluxo de caixa. Ela precisa atender o “cliente” e o cliente não quer um produto barato porque é de baixa qualidade, não quer pobreza, nem problemas gastrointestinais por falta de água potável...

A Economia Azul (porque o planeta é azul, da cor do mar) propõe mudanças estruturais na economia, de forma que o bom é barato e o indispensável é grátis. Deve haver um investimento maior nos produtores locais e no aproveitamento dos recursos naturais, buscando a transformação e a eliminação dos dejetos, de forma a fechar um ciclo autossustentável. Um exemplo é o aproveitamento do café: com o que é descartado, pode se cultivar cogumelos de grande qualidade nutricional. Desta forma, os produtores de café podem quadruplicar o lucro com o material que iria para o lixo.

Assista a uma entrevista com Gunter Pauli, explicando porque a Economia Verde não está atendendo as necessidades do planeta. 

E uma palestra onde ele dá exemplos de projetos bem sucedidos, inclusive no Brasil, e explica o que é o pensamento sistêmico.

A Economia Azul/ZERI foca principalmente nas questões sociais, nas oportunidades de negócios, e enfatiza a importância dos empreendedores. Entretanto, por melhor que seja a ideia de utilização de materiais locais e de que o resíduo de um processo seja reutilizado como recurso em outro, ampliando assim os negócios, a linearidade do sistema de produção continua prevalecendo se o projeto de produtos continuar sendo berço-ao-túmulo. É preciso repensar, também, o projeto de produtos e, para tanto, a Economia Azul/ZERI tem promovido o desenvolvimento de produtos berço-a-berço.

Produto berço-a-berço e Economia Circular

McDonough, W. e . Braungart, M. (2002) Cradle to cradle, Remaking the way we make things. North Point Press.

 

McDonough, W. e . Braungart, M. (2014) Cradle to cradle,  Criar e reciclar ilimitadamente. Gustavo Gili.

Projetar pensando que o produto terá várias vidas

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Projetar pensando em um processo circular com 2 metabolismos possíveis: o biológico e o técnico

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O conceito de projeto berço-a-berço (cradle2cradle) ou C2C , difundido no livro de William McDonough e Michael Braungart  (2002, 2014) é uma das bases da Economia Circular.

Estes autores propõem estratégias para a concepção de produtos C2C e processos produtivos dentro de uma Economia Circular (ver as publicações da Ellen MacArthur Foundation, sendo que duas são sobre o Brasil, pois a Fundação está no país desde 2015), a partir do princípio do uso cíclico dos materiais, considerando que, no fim do ciclo de uma vida, eles serão reprocessados para iniciar um outro ciclo de vida. Desta forma, não há um túmulo para os produtos, pois eles se transformam para reiniciar uma nova vida, tendo assim, um novo berço. Luisa Santiago, representante da Ellen MacArthur Foundation Brasil, apresentou a Fundação no GloboNews Prisma 2018. Clique  em         https://globosatplay.globo.com/globonews/v/6714204/  para ver o vídeo de 5/5/2018.

Para que haja circularidade, os designers têm que projetar um produto já pensando que ele terá uma segunda vida, ou mais de duas. Assim, as perdas são menores, porque o produto não será reciclado, mas sim, reestruturado para assumir um outro ciclo de vida.

Um exemplo interessante de produto já projetado com duas vidas é  a tampinha de garrafa de refrigerante CleverPack projetada por Claudio Patrick Vollers para ser um brinquedo (tipo Lego) e evitar, assim, o descarte. A tampinha foi premiada no IF Design 2014. Veja em https://globosatplay.globo.com/globonews/v/3606974/ o projeto que foi apresentado no programa Cidades e Soluções exibido em 03/09/2014.

Em termos de processo, uma indústria C2C na Economia Circular deve se organizar para que os recursos sejam geridos em uma  lógica circular de criação e reutilização, em que cada passagem de ciclo se torna um novo ‘berço’ para determinado material. Dessa forma, o modelo linear é substituído por sistemas cíclicos,  permitindo que recursos sejam reutilizados indefinidamente e circulem em fluxos seguros e saudáveis para os seres humanos e para a natureza.

Note que a Economia Circular não fala em reciclagem, mas em recirculação e transformação dos materiais. A filosofia é de uma economia restaurativa do capital natural e, para isto, as indústrias devem projetar produtos com este foco e alterar seus sistemas de produção e distribuição a fim de permitir a recirculação de materiais.

 

Para que os resíduos possam ser reutilizados, há necessidade de se pensar nas matérias primas que serão utilizadas (que não sejam tóxicas, que não esgotem o planeta etc.), como serão utilizadas sem recorrer à mais extração de matéria prima da natureza, e como retornam para o local de reprocessamento.

A transformação de materiais pode ocorrer em dois ciclos ou metabolismos: o biológico (quando o material se torna nutriente na natureza) ou o técnico (quando é incorporado novamente no sistema fabril).

Veja o vídeo sobre projeto berço a berço.

Veja o vídeo legendado sobre projeto berço a berço e economia circular.  

Assista uma palestra de William McDonough sobre conceito berço a berço.

E uma palestra legendada de William McDonough sobre o conceito berço a berço.

Diferenciar 2 tipos de produto

A lógica C2C faz a diferenciação entre dois tipos de produtos: os de consumo e os de serviço.

Produto de consumo a ser processado no metabolismo biológico

Os produtos de consumo, como os de limpeza, higiene, embalagens, vestuário, devem ter como insumos os nutrientes biológicos que, assim, no fim de sua vida, podem ser processados no metabolismo biológico de forma a enriquecer o meio ambiente ao invés de contaminá-lo. 

Dependendo do tipo de material utilizado nos produtos de consumo, ele pode ter uma ou mais vidas: no caso de uma vida, ele pode ser compostado diretamente, e quando puder ter mais de uma, são reprocessados um máximo de vezes para diversos usos consecutivos, só voltando para  o meio biológico quando se degradarem. Isto porque, no seu reprocessamento, vai havendo perda de valor da matéria prima original, mas como são seguros, podem retornar para a biosfera quando não puderem mais ser restaurados.

Nutrientes biológicos são materiais orgânicos, mas também materiais como biopolímeros e outros sintéticos que são seguros para os seres humanos e para os sistemas naturais.

Produto de serviço a ser processado no metabolismo técnico

Os produtos de serviço, como automóveis e eletrodomésticos, são geralmente produzidos com nutrientes técnicos, e projetados desde o início para o reuso no metabolismo técnico.

São considerados produtos de serviço pois seu valor para o usuário não está no produto em si, mas no serviço que ele proporciona, como transporte, roupas e casas limpas, processamento, resfriamento e aquecimento de alimentos, entretenimento, etc.

Nutrientes técnicos são frequentemente de matéria sintética ou mineral, que podem permanecer com segurança no ciclo fechado de fabricação. Eles são duráveis, não perdem suas propriedades ao longo do tempo e, portanto, ao fim de um ciclo de vida útil, podem ser transformados em novos produtos sem perda de seu valor.

Um exemplo de produto de serviço C2C é o pneu Timberland, que já foi projetado para ser transformado em solados de sapatos da própria empresa, sem os gastos que haveriam se os pneus fossem encaminhados para reciclagem.

Economia Circular e Economia de Performance

Stahel, W .R. (2019) The circular economy: a user's guide. Taylor& Franci

A Economia Circular propõe que as empresas fabricantes de produtos de serviço considerem migrar do modo atual de venda para um modelo de arrendamento (leasing), locação ou compartilhamento. Isto traz vantagens tanto para a gestão circular de recursos e materiais quanto para a fidelização do relacionamento com o cliente. O cliente, que deixa de ser um consumidor para ser um usuário do serviço, se beneficia porque não precisa se preocupar em trocar, reparar ou descartar os produtos. A própria empresa se incumbe de substitui-los para depois serem reprocessados no metabolismo técnico.  

Esta ideia vem de Walter R. Stahel que cunhou o termo C2C e é fundador do Product Life Institute. Ele defende a extensão da vida do produto, recondicionamento e prevenção de desperdício mas, principalmente, a importância de vender serviços ao invés de produtos, conceito denominado Economia de Performance ou Economia de Serviço Funcional. Em 2019, lançou o livro "The Circular Economy: a user's guide".

 

Assista a um video onde Walter R. Stahel explica sua ideia sobre economia de performance e economia circular e outro onde ele detalha o conceito de economia circular.

Luz, B. (Org.) (2017) Economia circular Holanda -Brasil: da teoria à prática. Rio de Janeiro: Exchange 4 Change Brasil

https://www.firjan.com.br/publicacoes/manuais-e-cartilhas/economia-circular-holanda-brasil-da-teoria-a-pratica.htm

Assista uma entrevista com Deborah Dull, responsável pelo gerenciamento da cadeia de suprimentos de produtos da GE Digital, sobre cadeia circular de suprimentos.

Assista um video preparado para a Comissão Europeia (DG ENV), sobre como pequenas e médias empresas (SMEs) podem se tornar "verdes" em uma economia circular. É um video bem didático, que resume o que foi abordado até aqui, como a importância de levantar e analisar dados (por exemplo, análise de ciclo de vida, de custo e benefício), o ecodesign, ecologia industrial, economia funcional, logística reversa.

 

O video inicia ressaltando a importância das SMEs que são 99.8% das empresas americanas, portanto, cabe perfeitamente como exemplo no Brasil. De acordo com o Sebrae, as micro e pequenas empresas (MPE) representam 99,1% do total registrado de 6,4 milhões de estabelecimentos. São mais de 12 milhões de negócios, dos quais 8,3 milhões são microempreendedores individuais (MEI). Os pequenos negócios respondem por 52,2% dos empregos  com carteira assinada (27% do PIB) no país.

Dificuldade de implementar a abordagem circular

Necessidade de pensamento sistêmico

Apesar de fazer todo o sentido, a abordagem circular (com tudo o que incorpora, como ecologia industrial, economia funcional, logística reversa, C2C design, ecodesign) tem sido pouco aplicada, inclusive no Brasil. Uma das razões é que ela exige a mudança de um raciocínio linear tradicional, para um raciocínio sistêmico, que é mais complexo, já que lida com diversos atores e diversas variáveis que precisam ser considerados “fora da caixa”. Exige um grupo multidisciplinar atuando de forma integrada no desenvolvimento de produtos, sistema de produção, uso/consumo e logística. preciso repensar a ideia de progresso, como mostra o vídeo.

A pressão econômica do Triple-Bottom-Line, a pouca educação sobre questões socio-ambientais e a falta de vontade política

Uma outra justificativa  para a dificuldade de aplicação da Economia Circular é a incompatibilidade entre objetivos econômicos, ambientais e sociais, pois o econômico geralmente tem prioridade, e o cálculo econômico é geralmente feito considerando os parâmetros tradicionais da economia linear.

Na prática, quando as empresas se propõem a adotar estratégias de Triple-Bottom-Line, TBL ou 3P (people, planet, profit) (Elkington,1997), o raciocínio permanece linear e o foco a questão econômica, pelos ganhos a partir de iniciativas de ecoeficiência e ecoeficácia. Apesar das legislações ambientais, não é raro que não sejam cumpridas porque há pouca fiscalização e a adoção de práticas ambientalmente corretas são consideradas um custo com que as empresas não querem arcar. Na aplicação do TBL no Brasil, pode-se notar o desequilíbrio entre os seus três objetivos: com foco na economia, algumas empresas até começam a considerar as questões ambientais mas deixam de lado dimensões cruciais para um país com tanta diversidade no que tange as questões sociais, culturais e espaciais da sustentabilidade.

 

Tentando mudar o quadro nacional, a Confederação Nacional das Indústrias (CNI) vem incentivando iniciativas empresariais rumo à economia circular. O video  da CNI mostra como as questões políticas e educacionais são barreiras para a mudança de uma economia linear, que privilegia poucos, para uma circular, que privilegia toda a sociedade e o meio ambiente, e a necessidade de novos modelos de negócio para o Brasil, com a cooperação entre academia, empresa, governo e sociedade (o que aliás é a meta desta plataforma).

Simbiose industrial como alternativa para a economia circular rumo à sustentabilidade

Industrial Ecology

Chertow, M.R. (2000) Industrial symbiosis: Literature and taxonomy​. Annual Review of Energy and the Environment 25(1):313-337

Neste site da CNI, a simbiose industrial (SI) é considerada uma alternativa em rumo a economia circular, sendo destacada uma iniciativa de simbiose industrial em Sete Lagoas (MG), que desde 2009 beneficiou 760 empresas com a redução em quase R$ 9 milhões dos custos com aquisição de matéria-prima e materiais, possibilitou a reutilização de quase 140 mil toneladas de resíduos, economia de 195 mil toneladas de matérias-primas e reuso de 14 mil metros cúbicos de água. 

SI é um ramo da ecologia industrial, que lida com a gestão cooperativa dos fluxos de recursos de empresas que compartilham serviços (transporte e infraestrutura) e resíduos/subprodutos (resíduo de uma indústria utilizado como matéria-prima de outra), o que permite uma diminuição do consumo de materiais e energia. O conceito de  ecologia industrial é mais amplo, pois considera, além do nível da empresa e de relação entre empresas, o nível regional e global integrando várias organizações. Chertow (2000) apresenta uma figura que mostra esta diferença entre simbiose e ecologia industrial.

Nehn, I.B. e Ulhoi, J. (2002) Industrial simbiosis in an extended perspective.  Working Papers 2000-6, University of Aarhus, Aarhus School of Business, Department of Management

Notar que a base da SI (e da ecologia industrial)  é econômica (principalmente) e ambiental, pois o foco são os ganhos por meio da redução de insumos e reaproveitamento de resíduos. Nehn e Ulhoi (2002) já haviam destacado que geralmente a SI não  considera a dimensão social da sustentabilidade, e por isso propõem sua inclusão dentro da perspectiva de uma ecologia industrial social. Aqui cabe enfatizar a ligação da ergonomia/macroergonomia com as iniciativas de simbiose dentro de uma ecologia industrial social: além de não considerar a dimensão social (foco da ergonomia), em geral, as articulações para simbiose se dão no nível gerencial das empresas envolvidas, sem a participação dos empregados e da sociedade civil, ou seja, é um processo top down. A macroergonomia, com sua abordagem participativa, bottom up, pode contribuir para a inclusão das questões sociais e culturais (identificação das necessidades/demandas das pessoas, projeto do sistema de trabalho e de vida na região) na simbiose  (e na ecologia industrial) e, portanto, para a sustentabilidade das iniciativas. Afinal, a simbiose (e ecologia industrial) não pode se calcar apenas nos fluxos dos recursos materiais e energéticos, já que os humanos são os que operam estes sistemas (e vivem neles) e são impactados por seus resultados.

Cabe acrescentar que são muito raros os exemplos de cooperação entre empresas no Brasil, sendo uma oportunidade valiosa a inserção da ergonomia nestas iniciativas, não só para as empresas mas também para a disseminação da disciplina. Não é fácil introduzir a ergonomia nas micro e pequenas empresas Brasileiras (que, segundo o Sebrae representam 99% das empresas no país) não só pelo custo do estudo mas também pelo desconhecimento dos ganhos que a ergonomia pode aportar. Portanto, a introdução de princípios ergonômicos nas iniciativas de simbiose, arranjos produtivos locais (APLs) ou qualquer outro tipo de formação entre empresas atinge, de uma só vez, várias empresas, que podem tanto dividir os custos de implementação dos projetos quanto os ganhos humanos e de performance dos sistemas. Por outro lado, atuar com conglomerados de empresas é uma inovação que pode ser uma porta de entrada importante da ergonomia em empresas que talvez não conheçam as vantagens ou não podem arcar com um projeto de ergonomia.

Pouca importância dada à geração de lixo

Lixo = Erro de Design

O Globonews Prisma de 2018 apresentou o painel “Lixo = Erro de Design” com debate entre um representante do governo (Sabrine Andrade, coordenadora geral de resíduos do MMA) e empresa (Felipe Barolo, gerente de sustentabilidade da AMBEV) moderado pelo jornalista Andre Trigueiro. Assista ao vídeo veiculado em 5/5/2018. Clique em https://globosatplay.globo.com/globonews/v/6714434/ para ver o programa.

A AMBEV está investindo nas garrafas retornáveis e quando ela chega ao limite de 23 vezes de reuso, ela é reprocessada na fábrica de vidro da AMBEV no Rio de Janeiro, que também reprocessa as embalagens quebradas (até 20 vezes de retorno).

A iniciativa de embalagem retornável é um alento, e todas as fábricas que usam embalagens de vidro (ou outro material reciclável, como é o caso das garrafas PET retornáveis da Coca-Cola) deveriam ser obrigadas a fazer o mesmo, porque vidro não é lixo e nem resíduo. é um absurdo que todo o vidro no Brasil não seja reusado e reprocessado pois é matéria prima 100% reciclável, sem perda de suas características e, mesmo quebrado, pode ser encaminhado para reprocessamento, já que vai ser moído antes de voltar para o forno.

No Brasil, o vidro vale pouco no mercado, porque não há recicladoras interessadas, as fábricas de vidro não compram, ele é pesado, frágil, e assim, fala mais alto de novo a questão econômica: a maioria das empresas acha que não vale a pena o investimento em logística reversa para embalagem retornável, o que até o inicio dos anos 1990 era comum, para a maioria das embalagens  de bebida. A partir de então, as de refrigerante foram substituídas por PET (mais leve e mais resistente), e as de cerveja, em vidro, passaram a ser oneway, também não retornável.

Acesse https://globosatplay.globo.com/globonews/v/5173230/ para o vídeo sobre a questão do vidro no programa Cidades e Soluções da GloboNews exibido em 19/07/2016.

 

Assista ao video de 2019, sobre o Projeto TriCiclos (https://triciclos.net/pt-br/), nascido em 2009, no Chile, que está fomentando uma política de mudança de comportamento da população, rumo a uma economia circular, com pontos de coleta de resíduos para reciclagem. Participação do ex presidente do Chile, Sebastián Piñera, e de William McDonough. 

Assista ao documentário "O Lixo Nosso de Cada Dia", de 2019, que mostra o caminho do lixo em Rio Preto-SP e retrata a relação que a sociedade tem com o lixo que produz, abordando também a questão dos catadores. O Projeto foi contemplado pelo Premio Nelson Seixas 2019.

Em 28 de Janeiro de 2021, estreou o documentário "Descarte", do diretor Leonardo Brant (https://www.leonardobrant.com/descarte), sobre o drama social do lixo, apresentado a partir de histórias inspiradoras de artistas, designers, artesãos e ativistas que transformam materiais recicláveis com inovação e sensibilidade. O projeto compreende, além do filme, produção de reportagens, conteúdos digitais e uma ação mobilizadora sobre a questão do lixo no Brasil.​ Visite o site www.descarte.net e assista o filme nas plataformas de streaming Now, Vivo Play e Looke, e também no site https://www.videocamp.com/pt.

 

Assista o vídeo do lançamento do filme e um debate.

Assista o documentário "Lixo Extradordinário", de Lucy Walker (2011), focando o trabalho do fotógrafo e artista plástico Vik Muniz com os catadores, entre eles, Tião Santos, presidente da Associação dos Catadores do Aterro Metropolitano do Jardim Gramacho, que viviam do lixo de um dos maiores aterros controlados do mundo, localizado no Jardim Gramacho, bairro periférico de Duque de Caxias, no Rio de Janeiro. O aterro operou durante 34 anos, de 1978 até  03 de junho de 2012, quando oficialmente parou de receber lixo. Durante esse tempo, foi o maior depósito de lixo da América Latina e o principal da área metropolitana do Rio de Janeiro. Recebeu o lixo dos principais municípios metropolitanos: além do próprio Rio de Janeiro, acolheu detritos de Niterói, Nova Iguaçu, Duque de Caxias, Petrópolis, Teresópolis, São João de Meriti, Nilópolis, Queimada e Mesquita. Acumulou entre 60 e 80 milhões de toneladas de lixo. Após oito anos de seu fechamento, a promessa de revitalização do bairro e a justificativa na melhoria na qualidade de vida dos ex-catadores e moradores da região, jamais saíram da teoria. 

A meta do lixo zero

Outra questão importante é o conceito do Lixo Zero, que consiste no máximo aproveitamento e correto encaminhamento dos resíduos recicláveis e orgânicos e a redução – ou mesmo o fim – do encaminhamento destes materiais para os aterros sanitários e\ou para a incineração. Ele é promovido pelo movimento internacional Zero Waste International Alliance (ZWIA) em busca da sustentabilidade da cadeia de resíduos para uma sociedade livre de descartes. No Brasil, o ZWIA é representado pelo Instituto Lixo Zero Brasil (ILZB), fundado em 2010, que presta consultoria estratégica por especialistas brasileiros e internacionais (Itália, Estados Unidos, Suécia) para avaliação e elaboração de sistemas de gestão e gerenciamento de resíduos sólidos, desenvolvimento de programas e soluções inovadoras visando a melhoria contínua e a sustentabilidade, adequando aos requisitos do conceito Lixo Zero.

 

De acordo com presidente do ILZB, Rodrigo Sabatini, o lixo é o terceiro maior gasto das cidades brasileiras. Ele calcula que o Brasil produz 80 milhões de toneladas de resíduos sólidos por ano, cerca de 200 estádios de futebol, e a economia brasileira perde R$ 120 bilhões/ano em produtos que poderiam ser reciclados. Uma pesquisa da Ciclosoft de 2016, articulada pela organização Compromisso Empresarial para Reciclagem (Cempre), mostrou que apenas 18% dos 1.055 municípios pesquisados contavam com coleta seletiva. O ILZB criou um simulador que mostra aos gestores públicos os gastos de seus municípios com lixo e como sairiam ganhando caso adotassem o conceito lixo zero.

Mas deve-se ter ciência que resíduo totalmente zero é improvável, pois sempre haverá alguma perda nos processos de produção/consumo/logística. A meta é minimizar ao máximo (a quase zero) os resíduos dos processos (de produção, consumo e logística), além de projetar os produtos para que os nutrientes sejam reutilizados como um recurso no metabolismo biológico ou técnico, ao invés de descartá-lo como lixo em aterros ou lixões.

A dificuldade de evitar envio para aterros

Aterros são caros, e ficam mais caros quanto maior é o volume de resíduos (porque são necessários mais insumos, mais mão de obra e mais tempo para o tratamento) e quão mais distantes eles estão dos centros produtores de resíduos (porque aumenta o custo de transporte). Além do mais, quanto menos material, mais longa é a vida do aterro e menor a quantidade de chorume produzido. Portanto, quanto menos resíduo for destinado aos aterros, melhor.

O problema dos lixões

Lixões nem deveriam existir porque são contaminantes e insalubres. Embora proibido por lei desde 1981, e a prática de encaminhamento errôneo criminalizada em 1998 (lei de crimes ambientais), a maioria dos prefeitos ainda não resolveu o problema de destinação correta de resíduos até hoje (e também não são cobrados por isto).

Não se pode esquecer, também, os resíduos que são descartados irresponsavelmente, entupindo bueiros, poluindo rios. lagoas e oceanos. A responsabilidade pelo mal descarte também é da sociedade.

Veja em  https://globosatplay.globo.com/globonews/v/5433410/  o vídeo do programa Cidades e Soluções sobre o desafio dos prefeitos em relação aos lixões e possibilidades de destino correto de lixo, exibido em 07/11/2016. 

Veja em https://globosatplay.globo.com/globonews/v/3547330/ um debate sobre o fim dos lixões no programa Cidades e Soluções exibido em 06/08/2014. 

A questão do lixo, desde sua origem até seu tratamento final, envolvendo diferentes atores (a sociedade que produz o lixo, os trabalhadores da coleta e transformação) é um tema crucial onde os ergonomistas podem e devem atuar. Em 26/11/2020, no XX Congresso ABERGO | ABERGO Virtual 2020, a mesa redonda "A ergonomia do trabalho no manejo de resíduos sólidos urbanos" aborda esta questão. Os palestrantes foram o prof. Ricardo Gabbay de Souza ( (ICT-UNESP), Markus Spitzbart (chefe do Programa "Sustainable E-Waste Management in Ghana" (GIZ - Alemanha), Roseane Maria Garcia Lopes de Souza (diretora da ABES - Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental) e Sebastião Carlos dos Santos  "Tião",  que participou do documentário "Lixo Extradordinário", autor do livro "Do Lixo ao Oscar" e presidente da Associação dos Catadores do Aterro Metropolitano de Jardim Gramacho, Rio de Janeiro. A mesa abordou a situação de trabalho e os riscos a que estão expostos os trabalhadores nas atividades de acondicionamento, coleta, transporte, pré-tratamento e tratamento de resíduos. Abordou, também,  as atividades informais, como as realizadas por catadores ou cooperativas, que em geral não possuem instrução e nem equipamentos adequados. Acesse as palestras em https://www.youtube.com/watch?v=WVVdpm2K5Vw&feature=emb_err_woyt

No Congresso da IEA, em 2021, foram apresentados vários estudos relacionados à gestão do lixo e reciclagem, tendo sido enfatizada a importância da ergonomia para ações sustentáveis.

Uma oportunidade de ação dos ergonomistas é através do Instituto Lixo Zero (ILZ), uma organização da sociedade civil autônoma, sem fins lucrativos, pioneira na disseminação do conceito Lixo Zero no Brasil. Possui como objetivos promover e gerir a responsabilidade social na geração de resíduos ao incentivar e coordenar organizações e indivíduos sobre gestão adequada e promover o conceito e os princípios de Lixo Zero, bem como capacitar profissionais e certificar o cumprimento da Meta Lixo Zero por empresas, instituições e comunidades. O ILZ faz parte da Zero Waste International Alliance (ZWIA).

E a Política Nacional de Resíduos Sólidos?

Veja os webinars Indústria e Meio Ambiente promovidos pela Firjan na semana do meio ambiente, dias 1 a 5 de junho de 2020.

Webinar sobre resíduos sólidos industriais e pós-consumo realizado no dia 03/06/2020

Abertura: Jorge Peron | gerente de sustentabilidade da Firjan

Convidados:

Christiane Pereira | Coordenadora da Universidade Técnica de Braunschweig e especialista em resíduos sólidos urbanos

Carlos Silva Filho | Diretor executivo da Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe)  e vice-presidente da International Solid Waste Association (ISWA)

Karine Rossi | Coordenadora do Instituto Senai de Tecnologia Química e Meio Ambiente

Moderadora: Carolina Zoccoli | especialista em meio ambiente da Firjan

Webinar sobre resíduos sólidos industriais e pós-consumo realizado no dia 03/06/2020

Abertura: Jorge Peron | gerente de sustentabilidade da Firjan

Convidados:

Christiane Pereira | Coordenadora da Universidade Técnica de Braunschweig e especialista em resíduos sólidos urbanos

Carlos Silva Filho | Diretor executivo da Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe)  e vice-presidente da International Solid Waste Association (ISWA)

Karine Rossi | Coordenadora do Instituto Senai de Tecnologia Química e Meio Ambiente

Moderadora: Carolina Zoccoli | especialista em meio ambiente da Firjan

Manual de Gerenciamento de Resíduos - Firjan https://www.firjan.com.br/lumis/porta...

Guia Empresarial Logística Reversa de Embalagens no Estado do Rio de Janeiro - Firjan: https://www.firjan.com.br/lumis/porta...

Bolsa de Resíduos - Espaço de Compra, Venda e Doação de Resíduos - Firjan  https://bolsaderesiduos.firjan.com.br/

Panorama dos Resíduos Sólidos no Brasil - Abrelpe http://abrelpe.org.br/panorama/

Leia o material sobre resíduos sólidos disponibilizados pela Firjan e acesse o relatório "Panorama dos Resíduos Sólidos no Brasil 2018-2019" no site da Abrelpe.

Em anexo, o documento  "Plano Nacional de Resíduos Sólidos" (Planares) divulgado, em Junho de 2020, pelo Ministério do Meio Ambiente (MMA) para consulta pública aberta entre 3 de Agosto e 30 de Setembro de 2020. Dentre as propostas, estão: encerrar todos os lixões e aterros controlados existentes no Brasil até 2024;  até 2024, todos os municípios destinem adequadamente todos os resíduos de serviço de saúde; atingir a universalização da coleta de lixo em 2036; acesso, até 2040, de 72,6% da população à coleta seletiva;   até 2040, 100% dos municípios brasileiros tenha alguma forma de cobrança pela prestação dos serviços de manejo de resíduos e que 95%, que tenham serviços prestados por catadores, formalizem contratos com cooperativas e associações; recuperar, até 2040, 45% das embalagens em geral colocadas no mercado por meio do sistema de logística reversa; até 2040, aumentar em 25% a reciclagem dos resíduos da construção civil; até 2040, o reaproveitamento energético de mais de 60% do biogás gerado da decomposição de lixo orgânico pois essa quantidade, além de reduzir as emissões de gases de feito estufa, teria potencial para abastecer 9,5 milhões de domicílios com eletricidade; reduzir a quantidade e os impactos do lixo no mar, sendo que ao longo de 8.500 km de costa, existem 274 municípios costeiros.

Leis de incentivo e linhas de financiamento

O crédito presumido do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) foi instituído pela Lei 9.363/96 de 13 de Dezembro de 1996. O objetivo é ressarcir os exportadores do pagamento das contribuições para o PIS/Pasep e Cofins, determinado pelas Leis Complementares 7 e 8, de 1970, e 70, de 1971, incidentes sobre as respectivas aquisições, no mercado interno, de matérias-primas, produtos intermediários e material de embalagem, para utilização no processo produtivo.
O desconto nos impostos a serem pagos, o chamado crédito presumido, é calculado com base em uma estimativa do lucro das empresas. 

Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS instituída pela lei Nº 12.305, de 2 de Agosto de 2010)

Lei 11.196/05 ou Lei do Bem, de 2005, que concede incentivos fiscais às empresas que realizam pesquisa e desenvolvimento de inovação tecnológica, aproximando a relação entre universidades e institutos de pesquisa e o setor privado e potencializando os resultados em P&D

Políticas brasileiras de apoio a APLs.

 

Politicas federais, estaduais ou municipais de apoio e incentivo ao desenvolvimento social, ambiental e econômico.

Uma questão que envolve diretamente o governo (e os advogados) é a (bi)tributação de resíduos, que acabam sendo mais tributados do que a matéria prima virgem, porque não há crédito presumido do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) de material reciclado, ou seja o imposto que já foi pago pela matéria prima original não é reembolsado no caso do reuso do material.

Isto acaba por desestimular as empresas a utilizarem material de reciclagem, o que é mais um desafio para os advogados nesta plataforma, pois há de haver um meio legal de acabar com esta bitributação. Se uma empresa já recolheu o tributo pela matéria prima, esta não deveria ser novamente tributada, onde é que fosse usada. Pode-se entender que uma empresa, isoladamente, não consiga reverter esta questão da bitributação. Mas se as empresas se unirem, aumenta o poder de barganha.

Os governantes (no caso dos resíduos, principalmente os prefeitos, pois são os responsáveis pela coleta, transporte e destinação de resíduos) também deveriam ter interesse em enfrentar este e outros desafios em relação aos resíduos, pois se mais empresas produzem mais bens com menos resíduo, maior é a geração de riqueza e, portanto, retorno para o município.

 

Considerando o custo dos aterros, deveria ser de interesse dos governantes investir em tudo que diz respeito à minimização de resíduos, e maximização do reuso e reciclagem de materiais. Por exemplo, a instalação de unidades de reciclagem em clusters, pode aumentar o volume de materiais em um mesmo local, otimizar o seu processamento, gerar trabalho e renda para os municípios e reduzir material que iria para aterro.

Por maior que sejam as barreiras para desenvolvimento e implementação destes projetos, sem dúvida vale o esforço pois, com pessoas juntas e engajadas, tais barreiras são mais fáceis de superar. Além do mais, quem escolhe os prefeitos são os cidadãos, então cabe a eles (a sociedade) cobrarem, exigirem dos prefeitos (e vereadores) as iniciativas para minimização e reaproveitamento de resíduos.

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